Trabalho Escravo: Fragilidades do Mercado de Créditos de Carbono na Amazônia

Como a compra sem critérios de créditos de carbono, por grandes empresas, contribuiu para trabalho escravo e desmatamento na Amazônia. Entenda as fragilidades desse mercado.

Resumo da Postagem

Em junho de 2023, 16 trabalhadores foram resgatados em condições análogas à escravidão na Fazenda Sipasa, no Pará. A área pertencia ao Projeto Maísa REDD+, que gerava créditos de carbono para empresas como Audi, Uber, Nike, iFood e Giorgio Armani, e era gerenciado pela Empresa Biofílica/Ambipar, segundo a reportagem que iriginou este post. O caso expõe as fragilidades do mercado de créditos de carbono, especialmente na Amazônia, onde a falta de regulamentação e os mecanismos de auditoria falhos permitem violações de direitos humanos e desmatamento.

O Resgate na Fazenda Sipasa

Os trabalhadores resgatados na Fazenda Sipasa viviam em condições precárias, sem carteira assinada, alojamento precário e jornadas exaustivas. A área em questão fazia parte do Projeto Maísa REDD+, que visava manter a floresta em pé e gerar créditos de carbono para empresas que desejam compensar suas emissões de gases de efeito estufa.

Empresas Compradoras dos Créditos

Grandes empresas como Audi, Uber, Nike, iFood e Giorgio Armani compraram créditos de carbono do Projeto Maísa REDD+ para neutralizar suas emissões. A Uber, por exemplo, os utilizou para compensar emissões em países da América Latina, enquanto a Audi os utilizou no Rally Dakar. A compra de créditos por essas empresas levanta questões sobre a responsabilidade social e ambiental das mesmas.

Falhas no Mercado de Créditos de Carbono

O caso da Fazenda Sipasa expõe as fragilidades do mercado de créditos de carbono, principalmente na Amazônia. A falta de regulamentação, mecanismos de auditoria falhos e a dificuldade de rastrear a origem dos créditos permitem que violações de direitos humanos e desmatamento ocorram sem punições.

Desmatamento na Área do Projeto

Mesmo com o objetivo de manter a floresta em pé, o Projeto Maísa REDD+ teve áreas desmatadas dentro de sua área de atuação. Em 2022, imagens de satélite detectaram desmatamento ilegal na região, e em 2023, uma área de 264 hectares foi embargada pelo governo do Pará.

Projeto Maísa REDD+ (em azul), Fazenda Sipasa (em vermelho) e Fazenda Maísa (em verde). Fonte: Verra, Cadastro Ambiental Rural (CAR) e Google Maps (Mapa: Poliana Dallabrida/Repórter Brasil)

Histórico de Trabalho Escravo

O caso de 2023 não foi o primeiro envolvendo trabalho escravo em áreas do Projeto Maísa REDD+. Em 2010, 11 trabalhadores foram resgatados em condições análogas à escravidão na Fazenda Maísa, que também faz parte do projeto. A empresa Maísa-Moju, responsável pela área, entrou na “lista suja” do trabalho escravo em 2015.

Falta de Responsabilidade das Empresas Certificadoras

O Projeto Maísa REDD+ era certificado pela Verra, principal empresa de certificação de créditos de carbono do mundo. A Verra afirma que os créditos emitidos pelo projeto são “climáticmente íntegros”, mas não se responsabiliza pelas violações de direitos humanos que ocorreram.

Impactos Sociais e Ambientais

O caso da Fazenda Sipasa evidencia as falhas do mercado de créditos de carbono e seus impactos sociais e ambientais negativos. A falta de regulamentação, mecanismos de auditoria falhos e a compra de créditos sem a devida investigação podem contribuir para a perpetuação de violações de direitos humanos e desmatamento na Amazônia.

Conclusão

O caso da Fazenda Sipasa é um alerta para a necessidade de uma regulamentação mais rigorosa do mercado de créditos de carbono, mecanismos de auditoria mais eficazes e maior responsabilidade por parte das empresas compradoras dos créditos. É fundamental que os impactos sociais e ambientais desse mercado sejam considerados para garantir a proteção da Amazônia e dos direitos das populações locais.

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